No CCB - Centro Cultural de Belém de 4 a 8 de Março
Devem ser muito raras as pessoas que são completamente normais, lá no fundo das vidas privadas de cada um. Tudo depende de um dado conjunto de circunstâncias. Se todas as geringonças cósmicas se fundem ao mesmo tempo e se solta a faísca certa, sabe-se lá o que uma pessoa não será capaz de fazer.
Noël Coward, Vidas Íntimas
"A frivolidade só é frívola para aqueles que não são frívolos", diz a Madame De na obra-prima de Max Ophüls. E podia aplicar-se a este teatro de dinner jackets, champanhe, rosas, camélia e muita malícia. Mas vistas agora estas Private Lives são uma das mais cruéis análises das relações matrimoniais. Sob a doçura de uma primavera na Cote d´Azur quanto veneno, quanta maldade, quanto amor perdido? Uma obra-prima que queremos revisitar, um grande autor "menorizado" e fundamental. Depois de Pinter, Williams, Miller, quem? E com um sorriso de compreensão pelas fraquezas humanas.
Jorge Silva Melo
O PEDIDO DE EMPREGO de Michel Vinaver Tradução de Christine Zurbach e Luís Varela Com José Carlos Faia, Inês Fouto, Nuno Machado e Mafalda Teixeira Cenografia Ana Gromicho Luz Filipe Lopes Figurinos, Música e Encenação António Parra Um Espectáculo do Teatro da Rainha M14
No Teatro da Politécnica de 4 a 7 de Março4ª às 19h00 | 5ª e 6ª às 21h00 | Sáb. às 21h00
"Diz-me Natália para que é que se trabalha? Para ganhar a vida? Mas que vida?"
Michel Vinaver, O Pedido de Emprego
Um desempregado, naquela idade em qu parece não haver futuro, é submetido a uma entrevista de avaliação de capacidades que é um verdadeiro diagnóstico do sistema - o desempregad é a figura pura da vítima -, dos modos de exclusão quando as pessoas atingem certa idade. Nestes lugares de horror, o trabalh é exercido segundo regras de marketng que obrigam as pessoas a ser peças de uma engrenagem de sedução tacanha, impondo-lhes "texto" que digam, comportamentos e olhares para com os clientes - que também não são pessoas, mas entidades financeiro-contabilísticas, pessoas-cartão-de-crédito, criaturas lucro com pernas, mas não seres físicos e mentais, afectivos. Que sociedade é esta que trata os seus como descartáveis?
Um texto maior de um dos maiores autores do século XX, Michel Vinaver.
A estreia na encenação de António Parra.
Fotografia © Margarida Araújo
No Teatro da Politécnica de 11 a 28 de Março
3ª e 4ª às 19h00 | 5ª e 6ª às 21h00 | Sáb. às 16h00 e às 21h00
Em Almada, no Teatro Municipal Joaquim Benite de 3 a 5 de Abril
Nas Caldas da Rainha, no Teatro da Rainha de 21 a 23 de Maio
No Cacém, no Auditório Municipal António Silva a 30 de Maio
“O céu não é humano e o homem que pensa nem sequer pode ser humano.”
Bohumil Hrabal
Criado em 1997, com estreia no CCB, os Artistas Unidos retomam agora, 23 anos depois, um espectáculo criado por António Simão a partir da novela de Bohumil Hrabal, autor maior. Não é uma reposição, é uma revisão da matéria dada.
Em Praga, há uma cave. Brilhante como uma gruta de tesouros. Sombria e suja como um esgoto. Nessa cave há milhares de livros, centenas de ratos, visões passageiras e palavras que tornam o mundo grande. E há um homem, Hanta. Que há 30 anos empurra afectuosamente os livros, os mais belos e mais banais, para a prensa que os tritura e transforma em cubos de papel. Mas Hanta é um “carniceiro terno”. Sabe salvaguardar as palavras guardando-as na memória, para que elas brilhem que nem sóis, e para que esses sóis o ajudem a ver como pode ser a vida de um homem. Por entre a poeira, o suor e o cheiro a cerveja que não pára de beber, Hanta fala-nos.
Evelyne Pieiller